Com o meu aniversário já passado, cheira finalmente a Natal e, com ele, veem as memorias de tempos que parecem mais distantes do que realmente são.
O nosso natal começava no dia 23. Celebrava-mos o aniversário da minha mãe durante todo o dia até chegar a noite e irmos todos para casa dos meus avós onde o forno de lenha esperava o meu pai. Com bolos já na mesa da sala de jantar e polvo, peru e bacalhau condimentados, ainda faltavam algumas sobremesas, cortar as batatas e meter tudo no forno de lenha.
Era assim que nos preparávamos para a Véspera e para o Natal: a minha avó e a minha mãe na cozinha de volta de bolos, batatas e pudins. O meu pai a orquestrar o forno de lenha como um maestro enquanto eu vi-a a RTP2 e os desenhos animados natalícios que por lá passavam enquanto ou lhe fazia companhia a ele, ou ia para casa ver no que a minha avó e a minha mãe estariam a trabalhar.
A mesa da sala de jantar era enorme. Sempre com aquela toalha vermelha e branca de natal e as sobremesas dispostas quase sempre da mesma maneira todos os natais. O bolo de vinagre e o pudim nunca faltavam, pois eram os meus favoritos. Os pinhões eram os primeiros a desaparecer comigo e o meu irmão a mete-los na boca até não caber mais e mal poder-mos mastigar.
A árvore de natal e o presépio teriam sido montados por mim e pela minha avó no dia 1 de Dezembro. As mesmas fitas. As mesmas luzinhas. As mesmas figuras. E um toque de farinha espalhada pela árvore e pelo presépio para parecer neve.
No dia 23 as prendas também já lá estavam e eram sempre muitas.
Lembro-me de ficar-mos acordados a ver a SIC de 24 para 25 porque o meu pai só nos deixava abrir as prendas à meia noite e eu e o meu irmão ficávamos a olhar para o relógio da sala a contar os segundos até as 12 badaladas.
Certo ano, tudo isto desapareceu. Já nem me lembro bem porquê. Possivelmente quando mudamos de casa depois de outra enorme discussão entre a minha mãe e a minha avó. E os bolsos também começaram a diminuir.
O Natal foi perdendo a magia e começou a ser um dia como os outros só que com mais doces e bolos que o normal.
Quando finalmente me mudar e começar a morar com a Angel quero tentar reviver a magia do Natal. Embora seja-mos só duas, quero passar o dia 23 a cozinhar doces e bolos e no fogão a fazer prato da época. Quero enfeitar a árvore no dia 1 e deitar-lhe farinha para fazer de neve. Quero uma mesa com uma toalha vermelha e branca e os doces todos lá em cima. Quero presentes. Quero ver filmes natalícios na TV enquanto esperamos pelas 12 badaladas. Quero reviver o Natal que me fazia feliz.