Estive presa numa relação tóxica durante mais tempo do que deveria. Muito por minha conta, guiada por esperanças que me eram dadas, recusando-me a largar o que todos me diziam estar a corroer-me por dentro e por fora.
Algures em 2021, houve um clique. Disse-lhe as ultimas palavras, deixei claro que não a queria no novo capitulo da minha vida e segui em frente. Vi pessoal casualmente, sem qualquer intenção de começar uma nova relação tão cedo mas...o que as pessoa dizem é verdade: As coisas acontecem quando menos se espera.
No começo foi estranho. Estar com alguém sem haver aquela tensão sombria e pesada entre nós. Tudo parecia simples demais. Demasiado fácil. Onde estavam as discussões diárias? O atirar de coisas contra as paredes? O suster da respiração quando sentia que algo estava errado? As palavras e olhares frios só por ficarmos umas horas sem falar, sem saber se o amor de uma hora continuaria na seguinte?
Durante os primeiros 5 meses foi difícil aceitar que podia ser simplesmente assim. Feliz.
Rir só porque sim. Sentir um calor por dentro só de lhe ouvir a voz. Ser recebida com entusiasmo quando chego a casa depois de um dia atarefado.
Estava tão habituada a uma realidade mais opressora que foi difícil aceitar o porto seguro que encontrei muito por acaso. Alguém com a qual podia simplesmente ser eu.
Podia finalmente vestir o que queria, cortar o cabelo como me apetecia, cantar à mesa, abrir a boca sem medo de dizer algo errado que estragaria o dia.
Tenho sorte de a ter nesta fase complicada da minha vida, quando estou a recomeçar de novo depois de anos perdidos.
Consigo finalmente compreender o que é o "domestic bliss" de que tantos falam. Fazer o pequeno almoço e sentar-mo-nos na varanda a beber café pela manhã mesmo sem falar, só a aproveitar o sol que decidiu espreitar sem sentir desgaste por mais tempo que passemos juntas.
Realmente perceber do que se trata o amor. Tão nosso e só nosso sem necessidade de artificialidade mesmo nos dias maus.
Ama-la todos os dias um pouco mais.